Somente 19% das Casas em Portugal Possuem Seguro Contra Sismos
- 19 de fev.
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Embora o risco de sismos em Portugal seja muitas vezes subestimado, a realidade é alarmante: apenas 19% das habitações portuguesas possuem seguro contra sismos. Esse dado, revelado recentemente por fontes do setor segurador, reflete uma grande lacuna na preparação do país para um evento sísmico, algo que, apesar de ser menos frequente do que em outras regiões do mundo, continua a ser uma ameaça real.
Apesar de a atividade sísmica em Portugal ser, em média, de intensidade moderada, o país está situado numa zona de risco sísmico significativo, principalmente na região sul, onde se encontra a falha geológica da placa tectónica africana. Isso torna Portugal vulnerável a tremores de terra devastadores, como o grande terremoto de 1755, que destruiu Lisboa e causou milhares de mortes. Desde então, embora a memória do desastre tenha sido atenuada pelo tempo, as autoridades e especialistas em sismos alertam para o fato de que a probabilidade de um evento semelhante ocorrer no futuro, embora difícil de prever, continua a existir.
Atualmente, o panorama da adesão ao seguro contra sismos em Portugal é preocupante. A média de 19% de cobertura significa que, para a grande maioria da população, a possibilidade de sofrer danos materiais e estruturais significativos numa eventualidade sísmica pode resultar em enormes dificuldades financeiras. O número é ainda mais surpreendente quando comparado com outros países que, devido ao risco mais elevado de tremores, adotaram medidas preventivas mais rigorosas, como o Japão, onde os seguros contra sismos são comuns e amplamente acessíveis.
Em Portugal, muitos residentes ainda não percebem a vulnerabilidade das suas casas face a um possível tremor de terra. A maioria das habitações foi construída sem a devida consideração para mitigar os efeitos de sismos de maior magnitude, sendo particularmente preocupante a condição de muitas construções mais antigas, que não obedecem às normas sísmicas atuais. Apesar de o código de construção ter evoluído nas últimas décadas para incluir normas mais exigentes em matéria de resistência sísmica, muitos edifícios antigos – que representam uma parte significativa do parque habitacional do país – continuam a não cumprir essas normas.
O baixo índice de adesão ao seguro sísmico em Portugal é amplamente explicado pela falta de sensibilização sobre os riscos sísmicos. De acordo com João Martins, especialista em gestão de riscos sísmicos, "muitos portugueses ainda não percebem a gravidade dos danos que um sismo pode causar às suas casas, e também desconhecem o tipo de cobertura oferecido pelos seguros. Além disso, há uma perceção errada de que os sismos são eventos raros e imprevisíveis, o que leva as pessoas a não considerarem as possíveis consequências financeiras de não estarem protegidas".
Embora a maioria dos portugueses reconheça o risco de sismos, muitos acreditam que a probabilidade de um grande terremoto ser um evento iminente é remota. Esse fator de perceção de risco é um dos maiores obstáculos para que mais pessoas adquiram seguros que cubram os danos provocados por sismos.
Por outro lado, as seguradoras em Portugal também têm uma responsabilidade nesta questão. Em muitos casos, o seguro contra sismos é oferecido como uma cobertura adicional, muitas vezes separada do seguro multirriscos, o que pode gerar confusão entre os consumidores. Além disso, em algumas situações, os prémios dos seguros podem ser mais elevados do que o esperado, o que leva a que uma grande parte da população opte por não contratar essa cobertura adicional.
Outro fator importante que contribui para a baixa adesão ao seguro sísmico é a falta de incentivo por parte das seguradoras. Embora a maioria das grandes empresas de seguros em Portugal ofereça algum tipo de cobertura sísmica, a oferta continua a ser limitada em comparação com outras regiões do mundo. As seguradoras poderiam adotar uma postura mais proativa na promoção de seguros sísmicos, através de campanhas de sensibilização ou ajustando as condições dos seus produtos, tornando-os mais acessíveis e atraentes para os consumidores.
Além disso, o mercado português de seguros contra sismos precisa de uma maior diversificação e inovação. Existem poucas opções que combinem uma cobertura abrangente e um preço acessível. Para João Martins, a mudança nesta área é urgente: "É necessário que as seguradoras se adaptem ao contexto português, oferecendo produtos mais adequados à realidade do país. Em vez de se focarem apenas no preço, devem procurar soluções mais ajustadas às necessidades das famílias e pequenas empresas, e também contribuir para aumentar a consciencialização sobre os riscos sísmicos."
Os especialistas concordam que a chave para aumentar a adesão ao seguro contra sismos em Portugal é uma maior sensibilização da população. O governo, as seguradoras e as autoridades locais devem colaborar para implementar campanhas educativas que expliquem os benefícios do seguro sísmico e a importância da preparação em caso de emergência. Além disso, os cidadãos devem ser incentivados a realizar obras de reforço das suas habitações, para torná-las mais resistentes a tremores de terra.
“Investir em seguros e na melhoria da segurança das nossas casas é uma forma de garantir que, caso um evento sísmico ocorra, as consequências sejam minimizadas”, afirma Marta Silva, engenheira civil especializada em construção sísmica. “É um passo essencial para evitar grandes prejuízos materiais e para garantir uma recuperação mais rápida após o desastre.”
Num cenário de mudanças climáticas globais e maior frequência de desastres naturais, como os recentes sismos que afetaram a região do Mediterrâneo, a urgência de proteger a população portuguesa contra os efeitos de um possível grande terremoto aumenta. As autoridades e os especialistas estão a alertar para a necessidade de mais preparação e adaptação.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Portugal continua a ser uma zona com risco sísmico elevado, especialmente nas zonas de Lisboa, Algarve e Açores. A revisão das políticas públicas e a criação de incentivos para a adesão ao seguro sísmico são passos necessários para garantir a segurança e a estabilidade financeira dos cidadãos.
Em última análise, a proteção contra sismos não deve ser encarada como um gasto supérfluo, mas sim como uma medida preventiva essencial para a segurança das famílias e da economia nacional.
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